A cidade de São Paulo, maior centro urbano do país, concentra um total de mais de 200 ocupações habitacionais que abrigam mais de 45 mil famílias.
Iniciado em 2019, este é um projeto em andamento que se debruça intimamente nas histórias e no convívio de uma ocupação em São Paulo onde aproximadamente 35 famílias que não possuíam casa própria - ou que por algum motivo perderam suas casas - passaram a conviver em um mesmo espaço debaixo de um viaduto no bairro Bom Retiro. A vitalidade das pessoas em meio às condições adversas, rompe com os estereótipos de escassez e vulnerabilidade, deixando fluir a força de suas vozes e contrastando paradigmas sociais com cores vivas, criatividade e muita perseverança.
"Ô Culpa" vem da ambiguidade conceitual em contraponto a uma afinidade sonora que existe no cerne da palavra culpa e o verbo ocupar – ou ocupação – tratando de uma questão social que é um direito fundamental.
No dia 17 de março de 2020 (início da pandemia de COVID-19 na cidade), após terem todos os pedidos de socorro negados pelo poder público, a Polícia Militar e os órgãos públicos competentes prosseguiram com a ação de reintegração de posse e remoção das famílias do local. Com o aviso prévio decretado pela polícia oficializando a data da ação, os moradores, buscando evitar uma situação violenta de confronto, já haviam saído e se deslocado para outro local. A cena da demolição e os sons da destruição daquilo que foi o lar de muitas famílias e agora vinha abaixo eram chocantes diante dos olhos de quem deixa tudo para trás, mas que tinha aquele lugar como seu único abrigo.
Um problema recorrente sem qualquer horizonte de resolução. A escassez habitacional da região metropolitana de São Paulo bateu recorde, e atualmente o Estado de São Paulo registra um déficit habitacional de cerca de 1,8 milhão de domicílios. Desde 2011, esse déficit mais que dobrou de tamanho, crescendo a um ritmo médio de 10% ao ano. A fila por moradia popular supera 1 milhão de inscritos, mas o orçamento para essas obras parece não dar conta da crescente população que, sem trabalho ou rede de apoio, muitas vezes, acaba indo parar nas ruas.
Com o alto índice de desemprego, uma conjuntura de ensino público precária e a carência catastrófica de infraestrutura e saneamento básico no país, as condições essenciais necessárias de grande parte da população para sustentar um aluguel ou a posse de uma moradia tornam-se impraticáveis. Um planejamento de política habitacional adequado para lidar com esta situação parece cada vez mais distante em meio às prioridades políticas da cidade e do país, agravando a situação para um problema cíclico de maiores proporções e no qual o resultado se fará presente e cada vez mais evidente ao longo dos anos.